Não é surpresa para ninguém que nos encontramos na
seleta classe de advogados devidamente inscritos na Ordem dos Advogados do
Brasil, superando a condição de estudante, de bacharel, e até em alguns casos
da mais nova anomalia jurídica tão combatida atualmente,
o paralegal.
Somos merecedores desta inegável conquista, produto
de nossos árduos estudos, das noites mal dormidas, das nossas escolhas e das
nossas perdas. Como discorre Augusto Cury, “todas as escolhas, tem
perdas. Quem não estiver preparado para perder o irrelevante, não está apto
para conquistar o fundamental”.
Nesse sentido, tenho a certeza que conquistamos
então (ainda que parcialmente) o fundamental, até porque obtivemos êxito a
aprovação no Exame da Ordem.
Mas, e agora?
O presente articulado não tem o objetivo de ensinar
o novo advogado a advogar, não tem o condão de ser uma cartilha e informar
passo a passo a vida do jovem advogado, como se fosse uma receita de bolo ou
modelo de petição inicial.
Pelo contrário, o objetivo é apenas dividir
experiências e amarguras “conquistadas” a partir do juramento, numa forma bem
simples e sem os formalismos jurídicos inerentes a nossa profissão.
Vamos lá.
Entro num escritório ou abro minha “portinha”?
Acredito que para essa tomada de decisão é preciso
analisar diversas circunstâncias e enfrentar alguns pontos importantes, como
por exemplo:
·
Experiência jurídica. Caso não tenha feito qualquer
estágio durante a faculdade, ou não tenha segurança na confecção de peças e
atendimento ao cliente, acredito inviável (neste momento) a abertura do próprio
escritório;
·
Investimento. Sabemos que todo “negócio” além do
investimento inicial exige um caixa até que o escritório comece a se pagar, o
chamado payback. O retorno do investimento e o início do lucro
dependem de alguns fatores: determinação, trabalho e sorte.
·
Perfil Empreendedor. Na minha humilde visão, não é
possível querer ser o dono do próprio negócio se não tiver qualquer tino
comercial.
Pronto! Já decidi. Vou abrir meu escritório. E agora,
o que fazer?
Dica 01: Encontre um advogado parceiro – encontre
outro advogado que atue numa área que tenha o mesmo público alvo que o seu,
para dividir despesas e conquistar mais clientes. Por exemplo: caso você atue
apenas nas áreas trabalhista e previdenciária, seria interessante uma
“parceria” com advogado que atue na área de família.
Na minha visão, seria um tiro no pé a suposta
parceria entre um advogado trabalhista reclamante e um advogado tributarista,
uma vez que seus públicos alvos são absolutamente distintos.
Pensem bem! Seus custos serão reduzidos pela metade
e dificilmente seu escritório ficará sozinho quando estiver numa audiência.
Dica 02: Defina seu público alvo – a captação de
clientes é proibida, no entanto, o marketing jurídico jamais será,
dessa forma, quanto antes você souber quem são seus clientes, mais facilmente
conseguirá conquistá-los.
Dica 03: Defina seu local de trabalho – a
importância do local de trabalho é importante, e devemos interpretar “local” no
sentido mais abrangente possível, ou seja, cidade, rua e pontos de referência.
Vale a pena entrar no site do SEBRAE e ler alguns
artigos e guias práticos sobre empreendedorismo. Além disso, periodicamente são
disponibilizados cursos gratuitos.
Enfim, são estes alguns pré-questionamentos que
deverão ser pensados e repensados antes responder a indagação inicialmente
formulada.
Devo atuar em todas as áreas ou numa área
específica?
Nobres colegas, estamos no mundo da especificidade
ou especialização da profissão, por exemplo, caso tenha uma dor de ouvido,
tenho (quase) certeza que procurará um otorrinolaringologista e não um
cardiologista.
No direito a dinâmica é a mesma. Com todo respeito
aos advogados trabalhistas, até porque é minha área de atuação, mas jamais os
contrataria para fazer um Tribunal do Júri, por exemplo.
No entanto, no início de carreira não temos
escolha, não temos dinheiro para sequer pagar a anuidade da OAB. Dentro da
ética, da responsabilidade e do respeito ao cliente, devemos agarrar o mundo,
aceitar os desafios, estudar, estudar e estudar.
Particularmente, como não tinha (e não tenho)
qualquer simpatia com o direito penal, por isso no bem no início da minha
jornada atuava apenas nas áreas trabalhistas, família e consumidor.
Como conquistar meus clientes?
Quem tiver essa resposta, por favor me avise.
Brincadeiras à parte, mas não esqueço o dia que
entrei no escritório, com aquela caixa cheia de cartões - exatamente um
milheiro - e pensei “para quem vou entregar tudo isso?”.
Obviamente, no começo entregamos para os
familiares, amigos e conhecidos, mas sabemos que muitos deles não são e nunca
serão nossos clientes.
Sabemos que a angariação de clientes
na advocacia é algo ilegal. O próprio Estatuto da Advocacia considera infração disciplinar
a angariação ou captação de causas, com ou sem a intervenção de terceiros.
Vamos ao caso prático: No mundo das empresas,
aprendi que devemos criar no consumidor a necessidade do produto ou do serviço.
Por analogia, no mundo jurídico, o princípio também
se aplica, ou seja, devemos demonstrar e orientar nosso cliente que um direito
dele está sendo aviltado e que, como advogados, temos a capacidade de resolver
o problema. Quantas vezes, um cliente entrou no escritório de vocês e uma
dúvida se tornou uma propositura de ação?!
Enfim, a estratégia de conquista (e não captação)
de clientes depende de cada advogado, do escritório e da região em que o
escritório está inserido.
Conclusão.
Importante ressaltar que não é através de um
pequeno e modesto artigo que vamos discorrer sobre o início de carreira do
advogado, mas antes de finalizar, tomo a liberdade de fazer algumas sugestões.
Assim como eu e você – jovens advogados – há outras
pessoas que estão na mesma situação. E por isso, a OAB tem um papel fundamental
nestes primeiros passos da nossa longa caminhada.
Uma das mais atuantes comissões da OAB é a comissão
do jovem advogado e através dela é possível trocar experiências, adquirir
conhecimentos, aprender e fazer o networking. Procure a comissão do
jovem advogado da sua subseção.
Por fim, lembrem-se que o advogado exerce um
verdadeiro sacerdócio, e nos cabe fazer com que a justiça prevaleça num país de
tantas desigualdades, até porque antes de ser exemplar e simbólica é preciso
que a justiça seja justa.
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Dr. Murilo Rosário - Advogado - OAB/PR nº. 66.565 Secretário Geral do Núcleo OAB Jovem de Londrina