segunda-feira, 28 de abril de 2014

#ARTIGO: Honorários e salários aviltantes

As manifestações populares que ganharam as ruas de diversas cidades brasileiras em meados do ano passado nos fazem meditar sobre a conquista de direitos. É fato que toda conquista importante sempre foi resultado de lutas e reivindicações da sociedade. O que importa é sabermos o porquê estamos lutando e para quem a luta é relevante. 

Está na Constituição Federal de 1988 que os advogados são essenciais à administração da Justiça (artigo 133). 

Com essa fundamentação louvável, atualmente a classe luta por honorários dignos e capazes de efetivamente fazer jus à função atribuída constitucionalmente. 

Mas quem são esses advogados que estão lutando? E por quem estão reivindicando mudanças tão significativas como aquelas que colocam fim aos honorários aviltantes fixados pelos juízes? 

Aviltante, segundo o dicionário, é aquilo que desonra, causa vergonha, ínfimo, vil. 

Hodiernamente, as faculdades de Direito proliferam no País. Centenas, milhares de novos profissionais são colocados no mercado de trabalho. 

Alguns rumam para o sonho da estabilidade de um concurso público. Outros peregrinam pelos escritórios à procura de um emprego. 

Esses ex-estudantes são agora advogados. São igualmente essenciais à administração da Justiça e têm algo em comum com aqueles advogados que lutam por honorários não aviltantes: precisam de um salário não aviltante. 

E aqui está a necessidade de reflexão, digna de manifestações e protestos. 

Os advogados mais experientes, que reivindicam honorários decentes, admitem como prestadores de serviço, um também advogado, e como pagamento oferecem-lhes uma remuneração não condizente com a sua luta. 

A Ordem dos Advogados do Brasil, seção Paraná (OAB/PR), divulgou o resultado de dois diagnósticos da advocacia iniciante, realizados em 2010 e 2013, que traçavam, entre outros pontos, o valor da remuneração dos advogados em início de carreira. 

O resultado é alarmante, pois no ano de 2010, 57% dos advogados de todo o Estado do Paraná que participaram da pesquisa recebiam menos de R$ 1.500, e em 2013 esse percentual foi de 46%. 

A OAB/PR, a exemplo de outros Estados, estabeleceu um piso ético de remuneração para os advogados em início de carreira (R$ 2.800). 

Entretanto, dia após dia são contratados advogados para trabalhar dignamente em troca de um salário vil, desonroso e aviltante. 

Então, perguntamos mais uma vez: de quem é a luta e por quem lutamos? 

Advogados e advogados, parecem reivindicar a mesma dignidade e respeito. Exigem dos juízes maior valorização da profissão, contudo não valorizam seus semelhantes. 

A luta pela valorização será posta em prática dentro de casa? 

As manifestações precedem a conquista de direitos, mas a conquista não pode ser egoísta nem individualmente considerada. 

A conquista deve ser da classe e para todos que a ela pertencem. 

Afinal de contas, todos os advogados merecem uma contraprestação digna e decente, para que não sejam aviltados em seus direitos mais primários. 

E, somente assim, poderá se conceber a ideia de que, "no dia em que seu filho lhe pedir conselho sobre o futuro, considere uma honra aconselhá-lo a ser advogado" (Eduardo Couture). 

HALINE OTTONI ALCÂNTARA COSTA MONGE e AUGUSTO RODRIGO GOZZE são advogados em Londrina 

Fonte: Coluna Espaço Aberto - Folha de Londrina

Um comentário:

  1. Prezados Colegas,
    Meu nome é Thiago Chaves Ribeiro, sou Advogado em Minas Gerais e estamos na luta por melhores condições para nossa profissão! Um Grande Abraço.

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